Trezentas pessoas acompanham o Seminário Estadual de Emergências e Desastres: estratégias latino-americanas de enfrentamento à questão, em Vitória, ES, nesta sexta-feira, 25 de fevereiro. O seminário reúne psicólogos, voluntários, bombeiros, educadores, policiais, estudantes. Nos próximos quatro dias, haverá oficinas para psicólogos em Vitória, Serra, Cachoeiro do Itapemirim e Linhares.
As palestras do seminário reforçaram a ideia de que há muito pouco de natural nos desastres: eles ocorrem quando fatores naturais são aliados a vulnerabilidades sociais e, quanto maiores as vulnerabilidades, maiores as chances de estragos e vítimas. O uso irregular do solo, a especulação de terras urbanas e rurais, a aceitação de populações vivendo em locais inseguros por toda a sociedade não podem ser deixados de lado para o entendimento do que leva aos desastres – e também para pensar como lidar com eles, seja a curto, médio ou longo prazo.
Mudanças incessantes na paisagem, aliadas à inércia da burocracia pública e à subserviência dos povos às metas de crescimento que só atendem ás elites econômicas do país são terreno fértil para a propagação de problemas, segundo a socióloga Norma Valêncio, especialista em emergências e desastres. “[Precisamos de] territorialidade segura para todos. Construir uma cultura de paz como escopo de novo projeto civilizacional brasileiro. Desastres não são problema técnico. Pensar em soluções baseadas em obras e megacomputadores são reducionistas. Sociedade precisa ser pró-ativa na resolução dos problemas. Componente humano dos desastres não pode escapar”, defende. Norma associa prevenção de desastres a condições dignas de vidas para a população. Profissionais precisam enxergar grupos afetados, compreender lógicas e processo políticos que vivem.
Na mesma linha, a psicóloga Ângela Coelho questiona: “Por que a nação brasileira, que mobiliza tantos esforços em donativos e trabalho voluntários, aceita testemunhar cotidianamente o abandono das populações? Há uma fratura entre ação humanitária e a ação em prol dos direitos humanos”, afirma. Ela defende que psicólogos atuem em conjunto com outros profissionais do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e do Sistema Único de Saúde (SUS), e que sua intervenção seja pautada pela escuta, pela compreensão das necessidades das populações e pelo diálogo com elas. “É preciso derrubar mitos: questão não é identificar patologias, é estar onde pessoas estão, nas atividades difíceis”, avalia.
Outro tema recorrente foi a importância da participação de toda a sociedade nas ações de defesa civil. “A defesa civil somos todos nós: todos executamos ações”, afirmou o Tenete Coronel Edmilton Ribeiro Aguiar, coordenador da Defesa Civil do estado do Espírito Santo.
O Seminário faz parte do plano de ação para o campo da psicologia das emergências e desastres, formulado pelos Conselhos de Psicologia após as diversas situações de emergência ocorridas no início do ano de 2011. “Este seminário sintetiza desafios de articular assistência humanitária, o compromisso social da profissão (que se posiciona pelo atendimento das demandas e urgências do país e empenho crítico sobre políticas públicas) e o desafio de redefinir e congregar atores sociais envolvidos nas situações de emergências e desastres”, avaliou Clara Goldman, vice-presidente do CFP, na abertura do evento. A presidente do CRP 16, do Espírito Santo, Andrea Nascimento, resgatou a origem da proposta do seminário, quando psicólogos capixabas foram demandados pelas famílias, igrejas e defesa civil das áreas afetadas e sentiram necessidade de refletir e articular suas práticas.
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