quinta-feira, 28 de junho de 2012

Resiliência: aprenda a dar a volta por cima



Ao encarar desventuras, há quem consiga se reestruturar rapidinho. Isso é resiliência. Saiba como desenvolvê-la

Saber que dificuldades fazem parte da vida é essencial para desenvolver a resiliência. Cair e levantar. Na teoria o mecanismo parece fácil. Na prática, as coisas são bem diferentes. Ao passar por uma situação que traz sofrimento – como o término de um relacionamento, a morte de um parente querido ou uma demissão – o processo de recuperação nem sempre é simples. A sensação de desânimo e perda pode durar um bom tempo e é fácil sentir como se nada mais fizesse sentido.
Porém, há indivíduos que enfrentam grandes percalços e, mesmo assim, conseguem vencer a dor e se reestabelecer em pouco tempo. Essa habilidade em superar é chamada pela Psicologia de resiliência. O termo foi sabiamente emprestado da Física, que define a resiliência de um objeto como sua capacidade de sofrer pressão ou impacto e, depois, voltar à forma original.

Inabalável?

É bom ficar claro que resiliência não tem nada a ver com ausência de sofrimento. De acordo com George Barbosa, diretor científico da Sociedade Brasileira de Resiliência (Sobrare), nos anos 70 havia esse entendimento e os resilientes eram chamados de invulneráveis. Mas isso foi logo corrigido. “O evento está lá, é real. Mas a maneira de interpretá-lo é que faz a diferença”, diz.
Voltando à analogia com a Física, do mesmo jeito que um objeto sofre desgaste e transformação, seja por causa da perda ou do ganho de energia, as pessoas ditas resilientes lidam com medos, dores, angústia e desespero diante de experiências traumáticas. Mas elas superam o impacto e conseguem dar outro significado ao acontecimento dentro do seu contexto de vida.

Questão de perspectiva

Deve-se dizer que nos primeiros dias ou semanas depois de um trauma é extremamente normal retomar a experiência desagradável por meio de lembranças e até pesadelos. Mas, enquanto as pessoas consideradas resilientes reúnem forças para se reorganizar emocionalmente e retomar a vida normal, há uma boa parcela que leva um tempão para conseguir ficar de pé novamente.
A diferença entre os dois grupos está basicamente na maneira de interpretar o evento.
Nos resilientes, aos poucos as recordações são elaboradas e incorporadas à sua autobiografia, transformando-se em memórias que futuramente podem ser evocadas como fontes de experiência.
Já para os indivíduos vistos como mais vulneráveis, há uma maior dificuldade em reduzir os estragos causados pelo trauma. Nesses casos, um dos sintomas é ficar revivendo o acontecimento, o que resulta em muita angústia.
Há quem chegue a desenvolver quadros psiquiátricos, como depressão. Para ter uma ideia, das pessoas que são expostas ou vivem uma situação traumática, cerca de 15 a 20% desenvolvem algum transtorno psíquico.
Por trás da fortaleza
Mas, afinal, por que há indivíduos que conseguem enfrentar as adversidades com tanta desenvoltura? Segundo Barbosa, são pessoas que desde cedo aprenderam a atribuir um significado adequado às suas crenças (ou seja, sem muito rigor). Dessa forma, desenvolveram a habilidade de transitar por diversos ambientes e situações. Trocando em miúdos: são mais flexíveis. É utilizando essa característica que os resilientes acabam se tornando mais controlados, atentos, confiantes, empáticos, otimistas e carismáticos.
“Por isso são conhecidos como pessoas com maior maturidade emocional”, diz o diretor científico da Sobrare.
Por outro lado, quem é muito rígido em relação àquilo que acredita corre o risco de sofrer mais para compreender e superar os infortúnios que vez ou outra aparecem pela vida. É como se só soubessem ir para casa por uma rua e, quando essa é bloqueada, não recorrem ao jogo de cintura para procurar rotas alternativas ao contrário dos resilientes.

Virando o jogo

A boa notícia é que todo mundo pode desenvolver a resiliência e, assim, ficar mais hábil em se levantar após um tombo. Para isso, é preciso estimular algumas habilidades individuais e sociais. Inicialmente deve-se ter a percepção e a consciência de que as dificuldades fazem parte da vida de todo mundo. Isso é essencial para desconstruir o pensamento de vitimização que paralisa e adoece as pessoas.
Outro passo fundamental para avançar na trilha que leva à capacidade de superação é identificar e reconhecer os próprios limites diante de situações causadoras de estresse. Além disso, é muito importante investir em recursos que possibilitem aprofundar o conhecimento sobre si próprio. Desta forma. Almeja-se evitar o sentimento de frustração e a baixa autoestima.
Cultivar relações de amizade verdadeira é mais um fator determinante para alcançar um maior grau de resiliência, já que os amigos costumam estar à disposição para ajudar em qualquer circunstância  o que aumenta, de quebra, a autoconfiança.
Segundo Barbosa, que costuma trabalhar o desenvolvimento da resiliência, quem tiver disciplina para seguir os modelos propostos conseguirá, com o tempo, atribuir novos significados aos traumas e, assim, tornar a vida mais gostosa. “Mesmo que haja dor”, finaliza.

Exercite a superação

A seguir, George Barbosa dá algumas dicas que considera fundamentais para o desenvolvimento da resiliência. “Quem for muito sistemático em relação a todas pode ganhar a fama de chato ou metódico. Portanto, é preciso dosar a maneira com a qual se dedica a cada uma”, aconselha. Vamos lá:
  1. Tenha autocontrole diante de situações importantes para você
  2. Analise o contexto da ocasião em que se encontra 
  3. Tenha autoconfiança em sua capacidade de realizar aquilo que se propõe a fazer
  4. Desenvolva a capacidade de conquistar e manter as pessoas junto de si 
  5. Trabalhe a habilidade de ser empático
  6. Seja otimista e alimente a esperança diante de percalços
  7. Procure “ler” e entender o que se passa com o próprio corpo
  8. Tenha o exato senso de valorização da vida
Para mais informações acesse: www.sobrare.com.br

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Pensamento da Semana


Depressão: Tratamento psicofarmacológico ou terapia?


Na atualidade os antidepressivos são os medicamentos mais comumente prescritos, nos Estados Unidos 1 em cada 10 adultos tomam. Em Portugal a venda de antidepressivos nos últimos dez anos teve um aumento de 110%, segundo o relatório do INFARMED, e no Brasil em cinco anos a venda de antidepressivos  subiu 48%. Segundo especialistas, o aumento nas vendas desse tipo de medicamento deve-se à prescrição exagerada da “pílula da felicidade”, tanto por médicos de outras áreas quanto para pacientes sem depressão. As estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para os próximos 20 anos não são das mais animadoras. Segundo levantamento da instituição, a depressão será, em 2020, a segunda “doença” mais prevalente do mundo.
Para as pessoas que sofrem de depressão clínica grave, estes novos fármacos têm sido uma dádiva de Deus. Para todos os outros, a imagem não é tão clara. Curiosamente, a grande maioria das pessoas que tomam antidepressivos não têm depressão profunda. Em vez disso, essas pessoas podem sofrer de ansiedade leve, angústia, humor diminuído, stress elevado, reclamando que “simplesmente não estão felizes”, sentem-se em baixo, têm um senso de culpa ou descontentamento, ou qualquer uma das centenas de outras formas de mal-estar a que podemos chamar de período de aflição.
Com a nova classe de antidepressivos chamados inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), que geralmente são pouco aditivos e têm um perfil baixo de efeito secundários, muitos médicos de cuidados primários bem intencionados sentem-se confortáveis a prescrever antidepressivos aos  seus pacientes quando estes “precisam de algo” para diminuir a sua tristeza e abatimento.  E, para mim este ato tão bem intencionado, tem muito mais de prejudicial do que de benéfico.
Sou apologista que a grande maioria das queixas de mal-estar psicológico, especialmente as que provocam disfuncionalidade no local de trabalho e nas relações intimas e sociais, necessitassem de uma abordagem conjunta entre a prescrição de medicamentos e o acompanhamento com terapia psicológica.
Na depressão grave, numa primeira fase pode ser necessário que a pessoa com depressão seja medicada com antidepressivos no sentido de reverter os sintomas físicos desagradáveis e incapacitantes. No entanto, dado que a depressão é um transtorno de humor que se relaciona com os acontecimentos da vida e com a forma como a pessoa enfrenta os seus problemas, será que a toma de antidepressivos pode ser considerado uma solução para o bem-estar e felicidade geral? Admito que não!
Muitas formas de psicoterapia diferem das abordagens que incidem exclusivamente nos medicamentos, debruçando-se sobre as causas em vez dos sintomas. Muitas terapias ensinam as pessoas deprimidas ou ansiosas novas habilidades, novas estratégias de lidar com as situações indutoras dos problemas, reestruturação de pensamentos e crenças sobre si, sobre o mundo ao seu redor, e sobre o seu futuro, que pode levar a novos padrões de comportamento. Embora não seja uma panaceia, a psicoterapia pode fornecer estratégias e métodos para mudar o pensamento das pessoas, estratégias de lidar com as situações do dia-a-dia e técnicas de redução dos sintomas físicos desagradáveis, produzindo benefícios duradouros.
Se for ensinado às pessoas deprimidas técnicas de relaxamento e competências de assertividade apropriadas, se melhorarem a sua capacidade de comunicação, e mostrar-lhes como evitar distroções negativas da realidade, certamente o seu mal-estar irá melhorar, assim como o abatimento e a desesperança.
Fato: Não há pílula que possa ensinar essas habilidades.
Mudanças de estilo de vida relativamente simples também podem fazer uma diferença significativa. Por exemplo, num estudo realizado na Duke University, um grupo de pacientes receberam um programa de trinta minutos de exercício físico três vezes por semana, que se mostrou “tão eficaz quanto o tratamento medicamentoso no alívio dos sintomas de depressão maior” numa questão de poucos dias.