Ao encarar desventuras, há quem
consiga se reestruturar rapidinho. Isso é resiliência. Saiba como desenvolvê-la
Saber que dificuldades fazem
parte da vida é essencial para desenvolver a resiliência. Cair e levantar. Na teoria o
mecanismo parece fácil. Na prática, as coisas são bem diferentes. Ao passar por
uma situação que traz sofrimento – como o término de um relacionamento, a morte
de um parente querido ou uma demissão – o processo de recuperação nem sempre é simples.
A sensação de desânimo e perda pode durar um bom tempo e é fácil sentir como se
nada mais fizesse sentido.
Porém, há indivíduos que
enfrentam grandes percalços e, mesmo assim, conseguem vencer a dor e se
reestabelecer em pouco tempo. Essa habilidade em superar é chamada pela
Psicologia de resiliência. O termo foi sabiamente emprestado da Física, que
define a resiliência de um objeto como sua capacidade de sofrer pressão ou
impacto e, depois, voltar à forma original.
Inabalável?
É bom ficar claro que resiliência
não tem nada a ver com ausência de sofrimento. De acordo com George Barbosa,
diretor científico da Sociedade Brasileira de Resiliência (Sobrare), nos anos
70 havia esse entendimento e os resilientes eram chamados de invulneráveis. Mas
isso foi logo corrigido. “O evento está lá, é real. Mas a maneira de
interpretá-lo é que faz a diferença”, diz.
Voltando à analogia com a Física,
do mesmo jeito que um objeto sofre desgaste e transformação, seja por causa da
perda ou do ganho de energia, as pessoas ditas resilientes lidam com medos,
dores, angústia e desespero diante de experiências traumáticas. Mas elas
superam o impacto e conseguem dar outro significado ao acontecimento dentro do
seu contexto de vida.
Questão de perspectiva
Deve-se dizer que nos primeiros
dias ou semanas depois de um trauma é extremamente normal retomar a experiência
desagradável por meio de lembranças e até pesadelos. Mas, enquanto as pessoas
consideradas resilientes reúnem forças para se reorganizar emocionalmente e
retomar a vida normal, há uma boa parcela que leva um tempão para conseguir
ficar de pé novamente.
A diferença entre os dois grupos
está basicamente na maneira de interpretar o evento.
Nos resilientes, aos poucos as
recordações são elaboradas e incorporadas à sua autobiografia, transformando-se
em memórias que futuramente podem ser evocadas como fontes de experiência.
Já para os indivíduos vistos como
mais vulneráveis, há uma maior dificuldade em reduzir os estragos causados pelo
trauma. Nesses casos, um dos sintomas é ficar revivendo o acontecimento, o que
resulta em muita angústia.
Há quem chegue a desenvolver
quadros psiquiátricos, como depressão. Para ter uma ideia, das pessoas que são
expostas ou vivem uma situação traumática, cerca de 15 a 20% desenvolvem algum
transtorno psíquico.
Por trás da fortaleza
Mas, afinal, por que há
indivíduos que conseguem enfrentar as adversidades com tanta desenvoltura?
Segundo Barbosa, são pessoas que desde cedo aprenderam a atribuir um
significado adequado às suas crenças (ou seja, sem muito rigor). Dessa forma,
desenvolveram a habilidade de transitar por diversos ambientes e situações.
Trocando em miúdos: são mais flexíveis. É utilizando essa característica que os
resilientes acabam se tornando mais controlados, atentos, confiantes, empáticos,
otimistas e carismáticos.
“Por isso são conhecidos como
pessoas com maior maturidade emocional”, diz o diretor científico da Sobrare.
Por outro lado, quem é muito
rígido em relação àquilo que acredita corre o risco de sofrer mais para
compreender e superar os infortúnios que vez ou outra aparecem pela vida. É
como se só soubessem ir para casa por uma rua e, quando essa é bloqueada, não
recorrem ao jogo de cintura para procurar rotas alternativas ao contrário dos
resilientes.
Virando o jogo
A boa notícia é que todo mundo
pode desenvolver a resiliência e, assim, ficar mais hábil em se levantar após
um tombo. Para isso, é preciso estimular algumas habilidades individuais e
sociais. Inicialmente deve-se ter a percepção e a consciência de que as
dificuldades fazem parte da vida de todo mundo. Isso é essencial para
desconstruir o pensamento de vitimização que paralisa e adoece as pessoas.
Outro passo fundamental para
avançar na trilha que leva à capacidade de superação é identificar e reconhecer
os próprios limites diante de situações causadoras de estresse. Além disso, é
muito importante investir em recursos que possibilitem aprofundar o
conhecimento sobre si próprio. Desta forma. Almeja-se evitar o sentimento de
frustração e a baixa autoestima.
Cultivar relações de amizade
verdadeira é mais um fator determinante para alcançar um maior grau de
resiliência, já que os amigos costumam estar à disposição para ajudar em
qualquer circunstância o que aumenta, de
quebra, a autoconfiança.
Segundo Barbosa, que costuma
trabalhar o desenvolvimento da resiliência, quem tiver disciplina para seguir
os modelos propostos conseguirá, com o tempo, atribuir novos significados aos
traumas e, assim, tornar a vida mais gostosa. “Mesmo que haja dor”, finaliza.
Exercite a superação
A seguir, George Barbosa dá
algumas dicas que considera fundamentais para o desenvolvimento da resiliência.
“Quem for muito sistemático em relação a todas pode ganhar a fama de chato ou
metódico. Portanto, é preciso dosar a maneira com a qual se dedica a cada uma”,
aconselha. Vamos lá:
- Tenha autocontrole diante de situações importantes para você
- Analise o contexto da ocasião em que se encontra
- Tenha autoconfiança em sua capacidade de realizar aquilo que se propõe a fazer
- Desenvolva a capacidade de conquistar e manter as pessoas junto de si
- Trabalhe a habilidade de ser empático
- Seja otimista e alimente a esperança diante de percalços
- Procure “ler” e entender o que se passa com o próprio corpo
- Tenha o exato senso de valorização da vida
Para mais informações acesse: www.sobrare.com.br
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