domingo, 27 de março de 2011

Pergunte ao Psicólogo


Email enviado por G.P

Olá Amigo!
Ouvimos falar constantemente sobre efeitos e reações da abstinência de drogas lícitas como o álcool e o cigarro. A minha dúvida surge a partir destes. Em experiência própria de abstinência tenho passado por tribuladas noites de sono, tendo pesadelos inexplicáveis e nada associados a memória recentes ou antigas e até mesmo vontades e desejos. Ocorre também súbitos no sono, como por exemplo, acordar suado e assustado e até mesmo demorando um curto período de tempo a reconhecer onde estou, como se levasse um 'tempinho' a sair do meio irreal vivido no sonho e retornar a realidade. Gostaria de saber se a abstinência pode ser o agente causador ou influenciar na ocorrência de tais sintomas.
Um grande abraço! Até a próxima!
G. P

Saudações G.P! Antes de qualquer coisa quero lhe pedir desculpas pela demora em responder a sua pergunta. Aproveito o espaço para explicar a todos os internautas que estou recebendo uma gama imensa de perguntas. Isso é muito bom pelo fato de demonstrar o acesso e credibilidade que este espaço virtual tem apresentado. Todavia, estou tendo uma intensa jornada de trabalho o que acaba dificultando a resposta de forma mais rápida e dinâmica. Mas não se preocupem, pois todos serão atendidos!

Agora focando no caso apresentado por você G.P. Temos que ter clareza que a síndrome de abstinência surge como decorrência a uma dependência a substâncias psicoativas. O sujeito quando manifesta o desejo de abandonar determinada substância vivencia a ‘síndrome de abstinência’. Recebe este nome uma vez que a pessoa poderá queixar-se de uma gama de sinais e sintomas. O sujeito enfrenta mal-estar, sofrimento mental e físico que varia de acordo com cada tipo de droga (com peculiaridades próprias).

Você cita um histórico de dependências a drogas lícitas como o álcool e tabaco. Diversos são os sintomas apresentadas por estes pacientes, como por exemplo;

a) Ansiedade;

b) Irritabilidade;

c) Agitação;

d) Sudorese (suor excessivo);

e) Tosse;

f) Apetite por doces;

g) Alteração na qualidade do sono;

h) Redução da pressão arterial;

i) Dificuldade no processo de concentração;

j) Tontura;

k) Cefaléia (dores de cabeça).

Durante a abstinência surge um desejo incontrolável de fumar. O acesso fácil e o estímulo da mídia fazem da nicotina a droga de mais fácil recaída. A síndrome dura de duas a quatro semanas, e os sintomas começam a surgir 8 horas após o último cigarro. Seu auge ocorre por volta do terceiro dia.

Dos dependentes do tabaco, 70% querem deixar, mas somente 5% o fazem por si próprio. Antes de abandonarem definitivamente ocorre de cinco a sete tentativas de interrupção, e suas recaídas ou dificuldades em se manterem sem uso durante o período da síndrome.

Os tabagistas que reduzem para 50% de seu uso já apresentam sintomas da síndrome que persistem por meses. 75% dos dependentes recairão num prazo de até cinco anos. 60% dos que fumarem por mais de um mês e meio fumarão por mais 30 anos de suas vidas, mesmo tentando se livrar do vício. Dados da OMS.

Vale a pena ressaltar que parar com a ingestão de drogas lícitas ou não exige muito autocontrole. Sem sombras de dúvidas você já começou no caminho certo. Todavia, destaco que você pode se consultar com um psiquiatra ou com um bom médico clínico geral. Podemos contar com o apoio de algumas medicações que nos auxiliam neste processo de transição. Alías, pacientes de longa data que se enquadram no perfil deste artigo devem se submeter ao famoso check-up. Este se faz necessário uma vez que grande parte das substâncias psicoativas podem desencadear problemas cardiovasculares. O apoio psicológico também pode ser uma grande ferramenta no processo de abstinência uma vez que poderá auxiliar os pacientes no processo de manutenção do tratamento desenvolvendo habilidades como autocontrole, refinamento nas habilidades sociais, modelagem no processo cognitivo (diminuir ou eliminar pensamentos pessimistas), melhora na autoestima dentre outros.

Portanto, G.P, toda caminhada começa com um pequeno passo. E lembre-se; o desejo de abandonar o uso de tabaco e álcool deve ser seu. Isso já facilita e muito este processo. Um dos maiores erros que podemos cometer é desejo o desejo do outro. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.

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