A sexualidade é um aspecto
central do ser humano ao longo da vida e abrange sexo, identidade de gênero e
papéis, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A
sexualidade é vivida e expressada em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes,
valores, comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. Enquanto a
sexualidade pode incluir todas as dimensões, nem todas elas são sempre
vivenciadas e expressadas.
A sexualidade é influenciada pela
interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos,
culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais.
Neste contexto, pacientes em
programa de transplante de órgãos vivenciam uma doença crônica de caráter
irreversível, que indubitavelmente altera sua qualidade de vida e
consequentemente sua sexualidade. Assim, o funcionamento sexual é um dos
primeiros aspectos da vida “normal” que é interrompido pelos sintomas físicos e
emocionais acarretados pela doença.
A sexualidade no transplante não
deve ser subestimada, uma vez influencia na qualidade de vida dos pacientes. Na
literatura há poucos estudos que trabalham esta temática nos transplantes. Sem
dúvida, ainda é um tabu conversar sobre este assunto com os pacientes, de modo
que muitos profissionais da saúde não questionam seus candidatos e receptores
de transplante sobre alterações relacionadas a sexualidade.
Tratar sobre a sexualidade não
deve ficar limitados aos pacientes submetidos a um transplante de órgãos, uma
vez que na fase pré-transplante, quando o paciente apresenta uma doença crônica
irreversível, alterações desta natureza causam impacto significativo na sua
vida, incluindo a presença de distúrbios que podem causar problemas no
relacionamento do paciente com seu cônjuge. Neste período, os fatores etiológicos
associados com disfunções sexuais estão associados a condições médicas (doença
crônica, alterações endócrinas, doenças cardiovasculares e alterações
neurológicas), fadiga crônica, perda da libido, uso de medicamentos (agentes
anti-hipertensivos, antidepressivos, anticonvulsivantes, estatinas), além do
uso abusivo de nicotina, álcool, esteroides, anabolizantes dentre outras
drogas.
Os candidatos a um transplante,
desde a indicação para cirurgia, direcionam sua vida para a sobrevivência e
recuperação. Após o transplante os receptores recuperam sua saúde e
resistência, e uma nova questão torna-se importante: quando e quanto a vida
sexual e a intimidade voltarão ao normal? Para responder a este questionamento,
as equipes de transplante precisam estar preparadas para auxiliar seus
pacientes a obterem respostas a esta pergunta.
Indubitavelmente, a sexualidade é
uma parte importante da vida cotidiana e também uma parte de quem somos como
homem, mulher e parceiros. A sexualidade é uma forma de satisfazer as necessidades
para o toque, proximidade, cuidado lúdico e prazer.
Sentimentos sobre a sexualidade
fornecem entusiasmo para a vida, tem grande impacto sobre a autoestima e imagem
corporal, e, sem dúvida, afetam as relações com os outros. Tão importante
quanto isso é para cada um, muitos pacientes e profissionais da saúde das
equipes de transplante não discutem o impacto da doença, do tratamento ou da
cirurgia na saúde sexual dos pacientes.
Dentre os possíveis distúrbios
relacionados à sexualidade nos homens destaca-se a disfunção erétil relacionada
a medicamentos, alterações hormonais, alterações da irrigação vascular da área
pélvica e presença de depressão. Nas mulheres destacam-se a disfunção ovariana,
amenorreia, diminuição ou perda da libido e da fertilidade. Nestes caso, após o
transplante, pacientes do sexo feminino precisam tomar várias precauções para
se evitar uma gestação ainda durante o período de recuperação da cirurgia,
sendo recomendado o uso de métodos contraceptivos. Ressalta-se que a gravidez bem
sucedida após o transplante é possível, no entanto, ela deve ser planejada sob
supervisão médica.
Em relação a atividade sexual, as
equipes de transplante normalmente recomendam esperar de 4 a 6 semanas após a
cirurgia para se iniciar.
Após o transplante os pacientes
ainda podem apresentar pouco interesse no sexo. A perda de interesse em sexo
pode ser devido a problemas muitos reais incluindo as preocupações com a
sobrevivência, medo e depressão, presença de náuseas e vômitos, conflitos de
relacionamento ou qualquer emoção ou pensamento que mantém o longe de se sentir
sexualmente excitado. Isso pode incluir ansiedade do parceiro por não gostar
das alterações no corpo do receptor do transplante. Outras causas de
interrupções na sexualidade podem ter base na presença de doenças, uso de
medicamentos e mudanças físicas no corpo. Estas incluem o ganho ou perda de
peso, acne, crescimento de pelos indesejados ou perda de cabelo. Para alguns
pacientes, cicatrizes, cirúrgicas podem levá-los a se sentir pouco atraente e
assim diminuir o seu interesse pelo sexo.
O Brasil está se tornando uma
referência no que se refere a transplante de órgãos. As equipes envolvidas
buscam constantemente aperfeiçoar todo o processo que se inicia com a inscrição
do paciente na fila única até o transplante propriamente dito. Desta forma,
estudar e buscar compreender de forma mais refinada o tema abordado se faz
presente. Afinal, o principal objetivo de um transplante deve estar pautado no
resgate da qualidade de vida de nossos pacientes.
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