domingo, 23 de junho de 2013

Sexualidade e Transplante de Órgãos

A sexualidade é um aspecto central do ser humano ao longo da vida e abrange sexo, identidade de gênero e papéis, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é vivida e expressada em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. Enquanto a sexualidade pode incluir todas as dimensões, nem todas elas são sempre vivenciadas e expressadas.
A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, éticos, legais, históricos, religiosos e espirituais.
Neste contexto, pacientes em programa de transplante de órgãos vivenciam uma doença crônica de caráter irreversível, que indubitavelmente altera sua qualidade de vida e consequentemente sua sexualidade. Assim, o funcionamento sexual é um dos primeiros aspectos da vida “normal” que é interrompido pelos sintomas físicos e emocionais acarretados pela doença.
A sexualidade no transplante não deve ser subestimada, uma vez influencia na qualidade de vida dos pacientes. Na literatura há poucos estudos que trabalham esta temática nos transplantes. Sem dúvida, ainda é um tabu conversar sobre este assunto com os pacientes, de modo que muitos profissionais da saúde não questionam seus candidatos e receptores de transplante sobre alterações relacionadas a sexualidade.
Tratar sobre a sexualidade não deve ficar limitados aos pacientes submetidos a um transplante de órgãos, uma vez que na fase pré-transplante, quando o paciente apresenta uma doença crônica irreversível, alterações desta natureza causam impacto significativo na sua vida, incluindo a presença de distúrbios que podem causar problemas no relacionamento do paciente com seu cônjuge. Neste período, os fatores etiológicos associados com disfunções sexuais estão associados a condições médicas (doença crônica, alterações endócrinas, doenças cardiovasculares e alterações neurológicas), fadiga crônica, perda da libido, uso de medicamentos (agentes anti-hipertensivos, antidepressivos, anticonvulsivantes, estatinas), além do uso abusivo de nicotina, álcool, esteroides, anabolizantes dentre outras drogas.
Os candidatos a um transplante, desde a indicação para cirurgia, direcionam sua vida para a sobrevivência e recuperação. Após o transplante os receptores recuperam sua saúde e resistência, e uma nova questão torna-se importante: quando e quanto a vida sexual e a intimidade voltarão ao normal? Para responder a este questionamento, as equipes de transplante precisam estar preparadas para auxiliar seus pacientes a obterem respostas a esta pergunta.
Indubitavelmente, a sexualidade é uma parte importante da vida cotidiana e também uma parte de quem somos como homem, mulher e parceiros. A sexualidade é uma forma de satisfazer as necessidades para o toque, proximidade, cuidado lúdico e prazer.
Sentimentos sobre a sexualidade fornecem entusiasmo para a vida, tem grande impacto sobre a autoestima e imagem corporal, e, sem dúvida, afetam as relações com os outros. Tão importante quanto isso é para cada um, muitos pacientes e profissionais da saúde das equipes de transplante não discutem o impacto da doença, do tratamento ou da cirurgia na saúde sexual dos pacientes.
Dentre os possíveis distúrbios relacionados à sexualidade nos homens destaca-se a disfunção erétil relacionada a medicamentos, alterações hormonais, alterações da irrigação vascular da área pélvica e presença de depressão. Nas mulheres destacam-se a disfunção ovariana, amenorreia, diminuição ou perda da libido e da fertilidade. Nestes caso, após o transplante, pacientes do sexo feminino precisam tomar várias precauções para se evitar uma gestação ainda durante o período de recuperação da cirurgia, sendo recomendado o uso de métodos contraceptivos. Ressalta-se que a gravidez bem sucedida após o transplante é possível, no entanto, ela deve ser planejada sob supervisão médica.
Em relação a atividade sexual, as equipes de transplante normalmente recomendam esperar de 4 a 6 semanas após a cirurgia para se iniciar.
Após o transplante os pacientes ainda podem apresentar pouco interesse no sexo. A perda de interesse em sexo pode ser devido a problemas muitos reais incluindo as preocupações com a sobrevivência, medo e depressão, presença de náuseas e vômitos, conflitos de relacionamento ou qualquer emoção ou pensamento que mantém o longe de se sentir sexualmente excitado. Isso pode incluir ansiedade do parceiro por não gostar das alterações no corpo do receptor do transplante. Outras causas de interrupções na sexualidade podem ter base na presença de doenças, uso de medicamentos e mudanças físicas no corpo. Estas incluem o ganho ou perda de peso, acne, crescimento de pelos indesejados ou perda de cabelo. Para alguns pacientes, cicatrizes, cirúrgicas podem levá-los a se sentir pouco atraente e assim diminuir o seu interesse pelo sexo.

O Brasil está se tornando uma referência no que se refere a transplante de órgãos. As equipes envolvidas buscam constantemente aperfeiçoar todo o processo que se inicia com a inscrição do paciente na fila única até o transplante propriamente dito. Desta forma, estudar e buscar compreender de forma mais refinada o tema abordado se faz presente. Afinal, o principal objetivo de um transplante deve estar pautado no resgate da qualidade de vida de nossos pacientes.

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