A ideia da saúde mental como a
conhecemos no passado, chegou a um beco sem saída. Ao debruçar-se mais nos
aspetos dos transtornos, focando a sua atenção nas incapacidades e disfunções
das pessoas, tornou-se excessivamente hermética no modelo da doença mental e
não propriamente numa abordagem focada na promoção da saúde mental. Na
atualidade, este antigo modelo não adiciona muita coisa na vida das
pessoas.
Da velha a nova forma de saúde psicológica
Felizmente tem vindo a surgir
na psicologia positiva uma nova forma de
olhar a saúde mental, exatamente pelo prisma principal que é focar muito mais a
atenção nos mecanismos do bem-estar, superação e florescimento do que
propriamente nos mecanismos da perturbação.
A saúde psicológica está a ser
repensada para o bem de todos nós. Existe agora a possibilidade de interpretar,
implementar e alinhar emoções, pensamentos, atitudes, valores e
comportamentos por uma perspectiva positiva.
De acordo com este novo paradigma
de mudanças bruscas na sociedade que abalam o equilíbrio emocional a espaços
curtos, também o velho conceito de psicoterapia e/ou consulta psicológica
deixou de ser um modelo adequado para ajudar as pessoas a lidarem com os problemas do dia-a-dia. O
modelo antigo baseado no processo alterou-se por necessidades impostas da
dinâmica da vida atual para um modelo consultivo orientado para os
resultados. O modelo antigo orientava-se muito mais para o problema específico
da pessoa não dando relevância ao enquadramento da vida da pessoa e ao
fornecimento de ferramentas promotoras de saúde psicológica.
Os desafios psicológicos incluem
uma mistura de questões sociais, econômicas e políticas que afetam a
nós mesmos, aos outros e o nosso futuro coletivo.
O campo da saúde mental está muito preso
dentro de uma mentalidade do século XX, que assumia uma relativa estabilidade e
mudança previsível na sociedade em geral e na vida pessoal em particular. Mas,
como eu descrevo abaixo, o mundo de hoje está em constante alteração, com
rápidas mudanças tecnológicas e interligação global. Esta mudança tem empurrado
a vida das pessoas e as expectativas de futuro para um turbilhão de decisões
constantes. Despertou medos contínuos e fez com que as velhas formas de lidar
com as mudanças e conflitos ficassem ineficazes.
Além disso, apesar da prevalência
da psicoterapia e medicamentos psiquiátricos, os conflitos emocionais continuam
a permear a nossa sociedade. Perturbações psicológicas como
a ansiedade e depressão tem vindo a aumentar entre as pessoas “funcionais”. Ou
seja, quer dizer que uma pessoa funcional, “sem doença mental” tal como poderia
ser diagnosticada no antigo modelo, sofre hoje de estados ansiosos e
deprimidos. Relacionamentos fracassados, casos de divórcio são uma constante,
apesar da prevalência de terapia de casais e de programas “salvadores de
relacionamentos”. Egoísmo desenfreado, narcisismo e mentalidades “fechadas”
influenciam negativamente as vidas pessoais e as políticas públicas.
Pesquisas tem trazido
esclarecimento sobre o papel dos medicamentos e do poder de placebos para a ansiedade e depressão,
revelando uma ausência de provas da eficácia da grande maioria desses
medicamentos, ou pior, que podem alterar o cérebro de maneira prejudicial. Por
exemplo, novos estudos têm vindo a desacreditar a velha teoria do desequilíbrio
químico como a “causa” da depressão. Outros mostram que o efeito placebo de medicamentos é muito mais
profunda do que se pensava anteriormente. Proeminentes investigadores estão
agora criticando o uso excessivo e mau uso de medicamentos psiquiátricos em
geral, e como eles podem afetar o cérebro, a longo prazo.
O IMPACTO PSICOLÓGICO DO MUNDO DE
HOJE
Há um novo ambiente mundial em
que os profissionais de saúde mental têm de conseguir reconhecer e levar em
consideração: as rápidas transformações que todos sentimos no nosso
dia-a-dia. Existe uma turbulência constante e altamente interconectada entre
todos os povos do planeta e, cada vez mais fica clara esta nova realidade que
se apresenta a todos nós como a nova “normalidade”. A antiga visão da saúde
psicológica nem sequer reconhece o impacto dos atuais desafios, muito menos
fornece uma visão de saúde psicológica no contexto deste “novo normal”. O
antigo modelo continua preso às premissas de um pensamento em torno de uma
“normalidade estável” e está desajustado a esta nova realidade que nos empurra
a implementar uma nova mentalidade baseada agora numa “normalidade temporária”
Ironicamente, grande parte do
mundo dos negócios está mais em sintonia com as novas realidades e do impacto
que têm nas organizações, na noção de liderança e na carreira das pessoas. Esta
perspectiva oferece uma imagem melhor acerca do que consiste a saúde
psicológica, hoje, e daquilo que a ajuda a construir. O mundo empresarial de
hoje tornou-se num ambiente de caos, incerteza e perturbação em progresso. Tudo
isto leva a que o ritmo de interrupção aumente, especialmente com a adoção da
mobilização social global, redes sociais móveis e de outras novas tecnologias.
O modelo que irá definir a próxima época é incerto. Este novo modelo de vida e
consequentemente de saúde psicológica será marcado por mais fluidez do que por
qualquer novo paradigma estabelecido. O padrão que se reconhece em tudo isto, é
que não há um padrão. O insight mais valioso é que estamos a caminhar num
sentido crítico, num momento de transformação constante que deita por
terra as velhas formas de adequação à vida e ao equilíbrio emocional.
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