terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pergunte ao Psicólogo


Boa tarde,

Dr. Sérgio, estou passando por um momento de dúvidas e conflitos com meu marido. Me chamo J. e preciso de uma orientação. Acredito que meu marido esteja com Pseudolalia ou transtorno de personalidade. Li a respeito das duas doenças, se é que possa denominar dessa forma e identifiquei traços das duas no comportamento dele:

- a mentira tornou-se um hábito. Ele mente sem necessidade, mente para encobrir seus erros, mente para as pessoas sentirem pena dele, mente para conseguir as coisas que quer. Mas, sempre as pessoas descobrem as suas mentiras e mesmo assim ele continua mentindo.

- ele sempre coloca a culpa nas outras pessoas para justificar as suas mentiras. Eu menti pra você porque você é fraca, eu menti porque não achei apoio, eu minto porque minha família é desestrutura e minha mãe me criou assim.

- ele não sente culpa ou remorso diante do sofrimento que ele causa nas pessoas com suas mentiras, e muito menos sente vergonha por ter mentido. Ele fala: Eu não sou doido eu fiz o que fiz sabendo o que estava fazendo.

No momento estamos separados, mas eu o amo muito e acredito que ainda vale a pena investir no nosso relacionamento. Hoje tenho certeza de ele precisa de um tratamento não só para que possamos ter um casamento saudável, mas para que ele possa ter uma vida de verdade, hoje ele vive das suas mentiras e não consegue conquistar nada de bom financeiramente, profissionamente e nem mesmo socialmente.

Gostaría de saber se existe alguma forma que eu possa convencê-lo a procurar um tratamento, mostrar para ele que precisa de ajuda. A imposição não funciona. Quando ele se sente acuado não há diálogo. Ele tenta e sempre consegue escapar das conversas ou situações em que ele não pode ser o condutor.

Por favor, me ajude.

Obrigada J

Boa noite J!

A pseudolalia é uma doença grave. Trata-se do vício compulsivo de mentir. Segundo especialistas da psiquiatria e psicologia a prática freqüente de viver uma situação imaginária pode ser o resultado de uma profunda insegurança emocional, além de traumas de infância.

A atitude funciona como um mecanismo de autodefesa para pessoas que apresentam um quadro de carência acentuada. As pesquisas revelam também, que uma pessoa que carrega o vício de mentir pode não conseguir se controlar, tornando-se semelhante ao quem tem o vício de jogo ou é dependente de drogas e/ou álcool.

Crianças vítimas de uma educação julgadora, imposições, disciplinas rígidas e que por vezes vivem dominadas com autoritarismo são fortes candidatas à doença. A pseudolalia pode conduzir a graves distúrbios de personalidade, podendo o pseudolálico acabar por perder a sua individuação e viver num real criado imaginariamente, comportando-se de forma difícil de contato humano e só com tratamentos profundos poderá melhorar.

Destaco J, que somente um profissional especializado poderá realizar um diagnóstico preciso desta patologia. Esta é uma variável importante de explanar visto este procedimento ser de difícil realização. O comportamento de mentir pode fazer com que o profissional emita um diagnóstico inadequado como o transtorno de personalidade, ou o famoso psicopata.

A dúvida por você apresentada é muito pertinente uma vez que as duas patologias apresentam algumas semelhanças. Vale a pena destacar também J que as informações encontradas na internet devem sempre ser filtradas para que possam servir como um norteador vivencial.

Sem sombra de dúvidas, as duas patologias por você mencionadas merecem acompanhamento especializado, uma vez que as consequências dos comportamentos destas pessoas recaem não somente sobre elas, mas também sobre as pessoas que as cercam, ou seja, sua família, sua empresa ou amigos.

Uma avaliação psicológica sem sombra de dúvidas se faz necessária diante do quadro por você apresentado. Todavia, você está certa. O processo psicoterapêutico não ocorre de forma obrigatória. O paciente deve estar ciente desta necessidade. Até mesmo porque J na psicoterapia a verdade é condição sine qua non. Seria o momento em que o paciente se encontraria consigo mesmo. Um local onde podemos encontrar e apresentar não somente o nosso melhor como também nossa pior. O que buscamos constantemente esconder das demais pessoas e muitas vezes de nós mesmos.

Acredito que se você deseja investir nesta relação, apresentar as variáveis que impediram, ou melhor, que os separaram devam ser apresentadas sem pudor. Fechar os olhos para esta problemática J é aceitar e reforçar o comportamento de mentir. Destaco, que amar é uma via de mão dupla, ou seja, quem ama deseja e deve ser também ser amado. Um casamento não é sustentado por apenas um dos cônjuges. O ideal seria buscar o ponto de equilíbrio, ou seja, o casal deveria buscar constantemente através do diálogo utilizar do melhor de cada um para administrar os mais diversos problemas.

J, lembra do Pinóquio? Aquele personagem criado pelos estúdios Disney? Toda vez que ele mentia seu nariz crescia. E digno de passagem como cresceu... No desenrolar do trama Pinóquio sentiu na pela ou melhor na madeira (rs) as conseqüências de seu comportamento. Ele somente parou de mentir quando ele se esforçou e desejou. Mesmo com a presença constante do pequeno grilo que servia como sua consciência.

Portanto, cuidado para que você mesma não acabe acreditando em mais uma mentira de que ele irá mudar mesmo sabendo de toda a realidade que o cerca. E atenção! A mentira é uma arte. O mentiroso é um grade ator. Assim, deixo aqui uma pergunta: você deseja fazer parte desta platéia?

Espero ter respondido sua pergunta me colocando à disposição para futuros contatos. Aproveito para destacar que o texto supracitado caracteriza-se como a emissão de uma opinião e não como um parecer psicológico.

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