domingo, 16 de outubro de 2011

Obesidade e a importância da Psicologia


A obesidade hoje em dia atinge cerca de um terço da população mundial e por isso é chamada de “epidemia” do terceiro milênio. No Brasil, 36% da população é obesa ou está acima do peso, segundo o IBGE. Esses dados são alarmantes porque a obesidade está associada com várias doenças, como o diabetes, a hipertensão arterial, doenças cardiovasculares (que levam, por exemplo, a derrame cerebral), lesões articulares e maior risco de certos tipos de câncer.

Assim, a obesidade é um problema médico sério. Suas causas são múltiplas, envolvendo fatores genéticos, metabólicos, comportamentais, culturais e sociais. Infelizmente a obesidade costuma ser tratada de forma inadequada porque vem sendo, há muito tempo, entendida como resultado de distúrbios psicológicos ou problemas morais.

O obeso vem sendo visto “como uma pessoa de baixa auto-estima ( só alguém que se odeia pode ficar assim deformado ), com limitações intelectuais ( deve ser burro... sabe que se comer tanto engorda, mas mesmo assim se entope de comida ), com mau funcionamento mental ( é muito ansioso: come para descontar a angústia , troca o afeto por comida , em vez de ter uma vida sexual adequada, sublima seus desejos através da comida ), covarde ( se esconde por trás daquela capa de gordura ) e egoísta ( fica deste tamanho para ocupar mais espaço no mundo )”. Pensava-se também que haveria uma personalidade típica dos obesos ou que eles não teriam personalidade, ou ainda, que seriam preguiçosos. Mas isso não é verdade.

Todas essas idéias não têm a menor base científica e contribuem para o grande estigma social que traz estresse e sofrimento aos obesos, comprometendo sua qualidade de vida.

Os empregadores, por exemplo, relutam em contratar pessoas gordas. Em uma pesquisa realizada nos EUA, 16% dos empregadores disseram que não contratariam mulheres obesas. Os candidatos obesos de ambos os sexos são descritos como "menos competentes, menos produtivos, desorganizados, indecisos e inativos." Além disso, os obesos recebem salários menores que não obesos nos mesmos cargos.

Mesmo entre crianças o preconceito contra a obesidade é marcante e as crianças obesas são segregadas pelas demais. Em outro estudo norte-americano foram mostradas para várias crianças fotografias de uma criança obesa e de outras crianças com problemas físicos e deformidades. Pediu-se, então, que apontassem qual das fotos a mais difícil de se gostar e qual criança que não queriam ter como amiga. A mais escolhida foi a foto da criança obesa. A explicação dada pela mairoia do grupo foi que enquanto as demais crianças eram vítimas de um infortúnio, a obesa era responsável por seu próprio problema . Logo era alguém com atributos negativos. Pesquisas semelhantes realizadas com adultos obtiveram resultados semelhantes.

Não é difícil, portanto, entender que os problemas que os obesos enfrentam no dia a dia em função do seu tamanho, podem levar ao aparecimento de sintomas ansiosos e depressivos. A presença de distúrbios emocionais não é necessária para o aparecimento da obesidade.

Os obesos não são pessoas mais complicadas ou comprometidas que as demais. Pessoas obesas que estão em tratamento apresentam mais sintomas depressivos, ansiosos e de transtornos alimentares. Quanto mais grave a obesidade, maiores os níveis de psicopatologia. Ou seja, a obesidade é a causa dos transtornos psicológicos e psiquiátricos e não a conseqüência dos mesmos.

A presença de problemas psicológicos decorrentes da obesidade pode influenciar de forma negativa no resultado dos tratamentos para redução de peso. Por isso, é fundamental que eles sejam diagnosticados e tratados de forma responsável e séria por profissionais capacitados (psiquiatras e psicólogos).

Dentre os distúrbios psíquicos relacionados à alimentação, o mais freqüente entre obesos é o transtorno do comer compulsivo, também chamado Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP). Está provado que mais que 30% dos indivíduos que buscam tratamento para obesidade têm TCAP; alguns trabalhos chegaram a encontrar taxas de 50%. Cabe ressaltar que 95% dos indivíduos com TCAP também têm depressão(1). Um outro padrão alimentar alterado igualmente freqüente em pacientes obesos é a Síndrome do Comer Noturno que se caracteriza por hiperfagia (isto é, exagero alimentar) noturna, insônia e anorexia matinal.

Fica clara, assim, a importância da psiquiatria e da psicologia na luta contra a obesidade.

Pense bem: como uma pessoa que come compulsivamente, que está deprimida ou que tem hiperfagia noturna vai conseguir seguir um plano alimentar?

Não se deixe enganar: tratamentos mágicos, que não consideram estes aspectos, não podem ter sucesso. Indivíduos obesos que já tentaram inúmeros tratamentos podem ser tentados a experimentar dietas, medicamentos ou preparações que alegam promover perda de peso rápida e de grande monta. Com isso caem em mãos de pessoas ou empresas antiéticas e vão perder tempo, dinheiro e o que é pior, a esperança de melhorar. O tratamento bem sucedido da obesidade, além de envolver o manejo das questões clínicas, nutricionais e de atividade física, tem que passar, necessariamente, pela abordagem psicológica.

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