Artigo publicado no Jornal Cinorreio Braziliense de 13 de setembro de 2010 como parte integrante da matéria "Apesar do aumento de doadores, espera por órgãos ainda é longa"
O transplante de órgãos e tecidos distingue-se das demais modalidades terapêuticas por ser a única cuja matéria-prima não pode ser comprada, pois, para salvar o paciente, faz-se necessário obter a doação de partes do corpo de um semelhante. A construção da cadeia de solidariedade, como o elo doador-receptor, no qual a partida de um possibilita o renascer de muitos é tarefa complexa, que requer uma intensa articulação entre aqueles que necessitam de transplantes, os profissionais que realizam esse procedimento, os poderes públicos que regulamentam esses atos e a sociedade, que precisa estar sensibilizada para atender ao apelo da doação.
A população, uma vez informada, responde bem a esse apelo. Após cada campanha ou mensagem positiva sobre doação, o país inteiro experimenta imensas ondas de solidariedade, que materializam a tese de Edgar Morin, de que "a espécie manifesta comportamentos solidários, de que nós temos um potencial de solidariedade, a questão é como fazer para despertá-lo", o que nos incita a conceber a solidariedade não apenas como um valor humanista, mas sobretudo como condição prática da sobrevivência de uma sociedade.
O Brasil alcançou, já no primeiro semestre de 2010, a marca de 10 doadores por milhão de habitantes, prevista para o fim do ano. Esse aumento, majoritariamente concentrado em alguns centros, deve-se a ações e iniciativas direcionadas para aumentar a eficiência na detecção e efetivação de doadores, somadas às atividades de capacitação, articulação e sensibilização desenvolvidas pela Associação Brasileira de Transplante de Órgão (ABTO). Decisão política de gestores, planejamento racional, educação e informação são, portanto, elementos infalíveis para uma política de transplantes eficiente.
Em um sistema de saúde descentralizado como o do Brasil, é de vital importância o engajamento dos governos estaduais para combater a desigualdade regional ainda tão gritante. O fosso existente entre os vários "Brasis do transplante" só será reduzido mediante o estabelecimento de metas a serem progressivamente alcançadas pelos gestores estaduais na captação de órgãos para transplantes, definidas a partir do patamar em que se encontram. A história dos direitos à saúde, não se fez num único lance. Essa responsabilidade política e ética é difícil de ser assumida e, exatamente por isso, é uma necessidade assumí-la. Juntos, governo e sociedade, podemos fazer muito.
Autor: Henry de Holanda Campos
1 comentários:
Olá amigo!
Muito esclarecedor seu blog, parabéns! Já estou te seguindo.
Flores e Luz.
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